-Nesta foto tirada em Nova Coimbra, estão dois operacionais da Frelimo que tinham sido capturados pelos G.E. 101, sob o comando do na altura sargento ajudante Biguane.
Irei aqui descrever uma história verídica que se passou comigo e estes homens:
-Começo por dizer que quando fui mobilizado para prestar serviço militar em Moçambique mentalizei-me que a questão relacionada com "A Guerra" própriamente dita pouco ou nada me dizia e como tal em vez de utilizar a minha G3 iria tentar ser útil ás pessoas necessitadas dos aldeamentos por onde íamos passando, tentando ajudar naquilo que as mesmas mais precisavam, dentro das minhas possibilidades e do que tinha na minha secção auto.
-Quando cheguei a Nova Coimbra, deparei-me com muitos naturais pedindo gasóleo para iluminação, coisa que segundo me disseram o anterior fur.mecânico não dava. Falei com o Capitão da Companhia e resolvemos ajudar. A coisa no início era complicada pois as pessoas apareciam com garrafas e em grande quantidade. Resolveu-se falar com o "Régulo" da aldeia e passou a ser ele a distribuir o gasóleo depois de lá se ter colocado um bidom. Esta foi uma medida bem aceite pela população da qual se sabia ser grande parte familias de operacionais da Frelimo. Para nós pouco nos importava, pois a acção psicológica era muito importante numa guerra de guerrilha como aquela.
-Fizémos outras campanhas de acção psicológica que contarei noutra peça mais adiante, mas ainda relacionado com a minha secção, digo que se chegou a uma certa confiança com a população ao ponto de na época da apanha do milho e da mandioca se mandar uma viatura para ir à machamba buscar estes espécies de alimentos para a aldeia. È certo que se tomaram as medidas necessárias para a segurança do condutor e da viatura e nestas condições ìa outra viatura com uma secção devidamente armada e acompanhada de enfermeiro e transmissões, não fosse haver alguma surpresa.
Tudo isto que descrevi tem a ver com o que conto de seguida:
-Quando eram capturados alguns elementos da Frelimo, normalmente ficavam numa cela improvisada durante alguns dias até que os pides os fossem buscar; o mesmo se passou com estes dois. Eu tinha por hábito visitá-los e dar-lhes umas cervejas, tabaco e alguma comida e ao mesmo tempo conversar com eles. Foi então que um me perguntou se eu me lembrava da emboscada que tínhamos sofrido quando do regresso do Lunho numa das colunas para colocar a companhia em operações no mato. Pois eu de facto bem me lembrava, já que da primeira vêz que saí para ir ao Lunho visitar o meu camarada mecânico, no regresso acontaceu mesmo. Vinha eu na cabine da primeira viatura, que era uma berliet e a determinada altura ouviram-se duas rajadas vindas do mato que naquele local tinha as árvores cortadas a cerca de 50 metros da picada para maior segurança a uma emboscada. Fiz o que o restante pessoal fêz depois da coluna ter parado, ou seja saltar para o chão e o pessoal habilitado fêz fogo de reconhecimento; não houve resposta e continuámos a viagem até Nova Coimbra.
-Dizia-me este homem: sabe furriel, nós conhecemo-lo bem e teria sido fácil alvejá-lo de rajada àquela distância, mas o senhor não o merecia. Fomos nós que disparámos as rajadas, mas não para matar, apenas para intimidar. Esta companhia tem sido amiga de ajudar o povo da aldeia. Mas não se esqueça dum conselho, nunca ande numa coluna no primeiro carro, pois é sempre o primeiro a ser alvejado e se fossem outros grupos que não o conhecessem podia ser fatal.
-Pois apenas vos digo que ao Lunho nunca mais fui e cada vêz que ía numa coluna passei a andar mais nos carros do meio, aceitei com reconhecimento os ensinamentos que aquele homem me deu. Pudera....
Sem comentários:
Enviar um comentário