-Quando da nossa passagem por Nova Coimbra, pelos melhores motivos, a nossa presença não passou despercebida à população do aldeamento com o mesmo nome . Lembro-me muito bem do dia em que pela primeira vêz atravessámos este aldeamento nas viaturas a caminho do quartel que se situava a cerca de dois kilómetros na direcção do Lunho. Enquanto os militares da companhia que íamos render faziam a festa com a nossa chegada, os naturais quase nem para nós olhavam ou faziam-no com ar de ódio, coisa que não é muito dificil de perceber.
-Os dias e as semanas foram-se passando e esta situação teria que ser alterada, pois a nós não interessava este estado de coisas, nem mais ou menos. Sabíamos que nesta povoação moravam muitos dos militares da Frelimo com as suas famílias, embora não se soubesse ao certo quem eram. Assim passou-se a uma tomada de posição chamada de "acção psicológica" coisa que no início pareceu estranha para os naturais (talvez porque outros nunca antes o fizéssem desta forma), mas depois passou a ser vista com bons olhos e aceite por todos.
-Então o nosso Capitão mais o Vaguemestre tiveram uma conversa com o RÉGULO da aldeia para lhe apresentar a inovação e os detalhes de como se ia processar. Assim em frente à casa do régulo fez-se um corredor onde cada um iria estar em fila e seria da responsabilidade do régulo a ordem para tudo funcionar a contento.
-Pois bem a novidade seria que todos os domingos depois do nosso almoço no quartel, iríamos ali distribuir pelas crianças e pelos velhos uma arrozada de bacalhau. Os cozinheiros confeccionavam num dos panelões da sopa este prato, carregava-se numa viatura e lá íamos distribuir o mesmo conforme o combinado. Para nós era indiferente de quantas vezes os miudos íam para a fila afim de levarem mais uma malga de comida para as suas casas(palhotas); até haver seria distribuido, pois os mais velhos tinham outras dificuldades em se movimentarem. Lembro que a determinada altura até os de meia idade se apresentavam com a sua malga para se abastecerem.
-Desta forma simples se conseguiu trazer as populações para as nossas relacções de amizade, embora as vidas de cada um continuassem como antes, eles na Frelimo e nós no quartel. Parece coisa pouco clara, mas só um doido é que vai matar alguém que lhe dá de comer e à família pelo menos uma vez por semana e que até pode beber uma cerveja à sua conta de vez em quando lá na tasca.
-Outras formas de ajuda que fizémos, entre elas a doacção de gasóleo para iluminação; as boleias de e para Metangula nas nossas viaturas quando lá nos deslocávamos; o empréstimo das viaturas para irem buscar o milho e a mandioca; a assistência de enfermagem no quartel pelos nossos enfermeiros; a venda de bens alimentares no quartel, etc..
-Tudo isto não foi demais para atingirmos os fins pretendidos.
-Tudo isto não foi demais para atingirmos os fins pretendidos.
-A seguir mostro algumas fotos que tenho, relacionadas com a distribuição da arrozada de bacalhau:
-Aqui estou sem divisas na companhia do condutor Fitas a distribuir a arrozada.
-Numa zona de guerra os galões e divisas só podem ser prejudiciais a quem os usa.
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-Outra foto com os mesmos intervenientes da anterior.
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-Aqui o cenário repete-se e aparece um homem de cor que me parece ser um dos nossos militares naturais a colaborar com a distribuição ?..
-Pela data que está na foto já fêz no mês passado 38 anos que foi feita esta acção.
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-Continuo a distribuir a alimentação e o pessoal vai esperando pela sua vez com as malgas.
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